sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"Droga Pesada"

O texto abaixo foi escrito por   Drauzio Varella  e publicado na folha de S. Paulo dia 20 de maio de 2000; quando surgiu o polêmico assunto sobre a proibição da propaganda do cigarro no país.
Ele está inserido no livro de portugues que eu estudo, achei interessantíssimo e me senti na obrigação de digitá-lo aqui, no meu espaço.










Droga pesada 


"Fui dependente de nicotina durante 20 anos. Comecei ainda adolescente, porque não sabia o que fazer com as mãos quando chegava às festas. Era inicio dos anos 60, e o cigarro estava em toda parte: televisão, cinema, outdoors e com os amigos. As meninas começavam a fumar em público, de minissaia, com as bocas pintadas assoprando a fumaça para o alto. O jovem que não fumasse estava por fora.
 Um dia, na porta do colégio, um amigo me ensinou a tragar. Lembro que fiquei meio tonto, mas saí de lá e comprei um maço de cigarro na padaria. Caí na mão do fornecedor por duas décadas; 20 cigarros por dia, as vezes mais.
  Fiz o curso de Medicina fumando. Naquela época começavam a aparecer os primeiros estudos sobre os efeitos do cigarro no organismo, mas a industria tinha equipes de médicos encarregados de contestar sistematicamente qualquer pesquisa que ousasse demonstrar a ação prejudicial do fumo. Esses cientistas de aluguel negavam até que a nicotina provocasse dependência química, desqualificando o sofrimento da legião de fumantes que tentam lardar e não conseguem.
 Nos anos 1970, fui trabalhar no Hospital do Câncer de São Paulo. Nesse tempo, a literatura cientifica já havia deixado clara a relação entre o fumo e os diversos tipos de câncer: de pulmão, esôfago, estômago, rim, bexiga e os tumores de cabeça e pescoço. Já se sabia até que, de cada três casos de câncer, pelo menos um era provocado pelo cgarro. Apesar do conhecimento teórico e da convivência diária com os doentes, continuei fumando.
 Na irresponsabilidade que a depêndencia química traz, fumei na frente dos doentes a quem recomendava abandonar o cigarro. Fumei em ambientes fechados diante de pessoas de idade, mulheres grávidas e crianças pequenas. Como professor de cursinho durante quase 20 anos, fumei nas salas de aula, induzindo muitos jovens a adquirir o vício. Quando me perguntavam: 'Mas você é cancerologista e fuma?', eu ficava sem graça e dizia que ia parar. Só que esse dia nunca chegava. A droga quebra o caráter do dependente.
 A nicotina é um alcalóide,. Fumada, é absorvida rapidamente nos pulmões, vai para o coração e através do sangue arterial se espalha pelo corpo todo e atinge o prazer. Esses, uma vez estimulados, comunicam-se com os circuitos de neorônios responsáveis  pelo comportamento associado à busca do prazer. De todas as drogas conhecidas, é a que mais dependência química provoca. Vicia mais do que álcool, cocaína, morfina e crack. E vicia depressa: de cada dez adolescentes que experimentam o cigarro quatro vezes, seis se tornam dependentes o resto da vida.
 A droga provoca crise de abstinência insuportável. Sem fumar, o dependente entra num quadro de ansiedade crescente, que só passa com uma tragada. Enquanto as demais drogas dão tréguas de dias ou pelo menos de muitas horas, ao usuário, as crises de abstinência de nicotina se sucedem em intervalos de minutos.Para evitá-las, o fumante precisa ter o maço ao alcance da mão; sem ele, perece que esta faltando uma parte do corpo. Como o álcool dissolve a nicotina e favorece sua excressão, por aumentar a diurese, quando o fumante bebe, as crises de abstinência  se repetem em intervalos tão curstos que ele mal acaba de fumar um, ja acende o outro.
 Em 30 anos de profissão, assisti às mais humilhantesdemonstrações do dominio que a nicotina exerce sobre o usuário. O doente tem um infarto do miocárdio, passa três dias na UTI entre a vida e a morte e não para de fumar, mesmo que as pessoas mais queridas implorem. Sofre um derrame cerebral, sai pela rua de bengala arrastando a perna paralizada, mas com o cigarro na boca. Na vizinhança do Hospital do Câncer, cansei de ver doentes que perderam a laringe por câncer levantarem a toalinha que cobre o orifício respiratórioabetto no pescoço, aspirarem e soltarem fumaça por alo.
 Existe uma doença, exclusiva de fumantes, chamada tromboangeíte obliterante, que obstrui as astérias das extremidades e provosa necrose nos tecidos. O doente perde os dedos do pé, a perna, o pé, uma cocha depois a outra, e fica ali na cama, aquele toco de gente, pedindo um cigarrinho pelo amor de Deus.
 Mas de 95% dosusuários de nicotina começam antes dos 25 anos, a faixa etária mais vulnerãvel às adições. A imensa maioria comprará um maço por dia pelo resto de suas vidas, compulsivamente. Atrás do lucro cativo, os fabricantes de cigarro investem fortunas na promoção do fumo para jovens: imagens de homens de sucesso, mulheres maravilhosas, esportes radicais e a ânsia de liberdade. Depois, com ar de doboche, vêm a público de terno e gravata dizer que não tem culpa se tantos adolescentes decidem fumar.
 O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim, como não adimitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia."













4 comentários:

  1. odeio cigarro, e vc?
    acho que todo mundo conhece ou já ouviu falar em uma história triste causada pelo cigarro.
    Saude é coisa séria.
    bjo

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  2. É verdade Bruna, muitas pessoas começam a fumar sem ter idéia do perigo que é essa droga lícita.

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  3. tinha um tio q fumavs muito hj graças Deus ele parou,ele começou com esse vicio sem motivos achou interesante ,ainda bem q ele parou a tempo.To seguindo teu blg now obg por sequir o meu,bjs

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